Essas reflexões expressam apenas um ponto de vista e não têm o tom de convencer, de se apresentar como uma verdade absoluta tampouco fazer contraponto ou sequer tentar embaraçar e desacreditar os conceitos históricos construídos por estudiosos ou escritores precedentes. A intenção é apresentar questionamentos, reflexões e favorecer a formação de Buscadores do Conhecimento ao analisar teorias sobre a origem da Maçonaria, as vertentes culturais e as Escolas do Pensamento Maçônico dentro do Curso Básico de Formação Maçônica, edição 2022, sem que venha a competir ou substituir a função exclusiva das Lojas Simbólicas na formação do homem maçom. Somos o resultado das escolhas e decisões feitas no passado por pessoas amigas, familiares ou até de amigos desconhecidos que ousaram sonhar ao nos propor uma escolha e um futuro.
Deram-nos um exemplo a ser seguido. É importante indagar de onde viemos, por onde viemos, onde estamos e pra onde iremos. Esse argumentar é a própria filosofia como uma arte de aprender a viver na Arte Real através de suas vertentes culturais. Essas vertentes compõem, de forma peculiar, a formação de um pensamento comum: como vivemos e como medimos nossas ações. É preciso compreender o caminho que nos separa das virtudes, da moral e dos vícios. Ou mesmo indagar qual é a utilidade em denunciar, apontar, indicar, falar ou comentar sobre os vícios, as paixões, os erros, o mal ou o pecado praticado por nossos semelhantes. Assim, o processo de ensino aprendizagem maçônica pode ser comparado a “obras de igreja”. Nunca pára. Está em constante aprimoramento e ajustes. Não há uma fórmula terminativa para determinar como ensinar e como atingir resultados ou parâmetros.
Assim, dentro das vertentes culturais existentes na Maçonaria encontramos a formação de um peculiar pensamento maçônico assimilado mais pela introspecção e autorreflexão do exemplo observado do que pelos livros... Luiz Gonzaga da Rocha, em Cultura de Maçonaria: um caminho. Londrina-PR, 2020; nos ensina que é através da “autoinstrução, de modo reservado e à medida que se evolui nessa senda real, aproveitando o interesse e o desenvolvimento individual, mediante um caráter de graduação que se obtém a instrução completa através do exercício da ritualística maçônica.
Ou seja, nada deve ser imposto na Arte Real exceto a obrigação essencial, individual, consciente da importância da presença rotineira e intencional – pode ser física ou pelos meios virtuais de comunicação – para a realização de um trabalho ativo semanal porque o aprendizado maçônico “decorre dessa frequência aos trabalhos de Loja”.
(1) A ORIGEM.
Através da regressão histórica vemos que muitas teorias existem para tentar, sim, tentar explicar a origem da Arte Real. É muito pouco querer ver na integração dos antigos maçons livres e dos maçons livres aceitos ou modernos esse nascedouro. A Carta de Bolonha, 1248, como documento escrito mais antigo até a presente data, gerencia conflitos entre os Companheiros Artífices da Pedra e da Madeira ao regular e uniformizar procedimentos para esses obreiros. A Wikipédia descreve Bolonha como sendo uma “...animada capital histórica da região de EmíliaRomanha, no norte da Itália.
A Piazza Maggiore é uma imensa praça cercada por colunatas em arco, cafés e estruturas medievais e renascentistas, como a antiga prefeitura, a Fonte de Netuno e a Basílica de São Petrônio. Dentre as muitas torres medievais da cidade estão as Duas Torres e as torres inclinadas de Asinelli e Garisenda....” Paulo Rezzutti, em D.Leopoldina a história não contada (2017), página 21, descreve ações da dinastia da Família Habsburgo por “seiscentos anos graças ao fato de saber se renovar e se adequar aos novos tempos”. Seus domínios controlavam um dos pontos mais estratégicos na Idade Média: o Passo de São Gotardo.
Uma ligação entre a Europa Central e a Itália; bem como ao Mediterrâneo. Um dos ícones Habsburgo, Frederico III, foi coroado Imperador do Sacro Império Romano pelo Papa Nicolau V. Ante de ser coroado, Frederico III, traçou o lema A.E.I.O.U.(Alles erdreich ist Österreich unterthan; em latim: Austriae est imperare orbi universo; em português: O destino da Áutria é governar o mundo).
Podemos verificar a influencia dessa pauta no conflito atual entre a Rússia e a Ucrânia. Essa referência ao Passo de São Gotardo registra o movimento e a presença da Arte Real vindo do Mediterrâneo e subindo através da Itália em direção à Europa Central. Portanto esse Movimento que foi ilustrado pelo Iluminismo veio do Oriente, via Mediterrâneo.
No Oriente temos dois grandes rios: Tigre e Eufrates, que nascem nas montanhas do leste da Turquia. Depois de atravessar a Turquia (Anatolia) e o norte da Síria, passam pelo Iraque, onde formam uma extensa planície fluvial antes de desembocarem no golfo Pérsico, entre o Irã e a Arábia Saudita. Portanto, determinado fluxo migratório é favorecido quando segue e desce essas correntes fluviais. Para isso exige habilidade na navegação e na construção das embarcações utilizadas.
O clima e o relevo que se alterna em nevascas na região montanhosa e árido na planície favorece esse permanente processo migratório que gera conquistas territoriais com a ocupação alternada – prolongada ou curta – entre os nômades. Por volta de 3500–3000 a.C. a história descreve a construção, após o Dilúvio Noaquita, de uma gigantesca torre nessa região. A Wikipédia descreve essa torre com a altura de 212 metros, conforme o Terceiro Apocalipse de Baruch: “...duas fontes extra-canônicas, o Livro dos Jubileus e o Terceiro Apocalipse de Baruch, mencionam valores supostos para a altura da Torre de Babel.
O Livro dos Jubileus diz que a torre teria 5433 cúbitos e 2 palmos, o que seria equivalente a 2484 metros de altura...Por outro lado, o Terceiro Apocalipse de Baruch é mais realista, dizendo que a construção teria 463 cúbitos, equivalente a 212 metros. Valor bem abaixo do sugerido no Livro dos Jubileus...” Para construir tamanha edificação foram necessários milhares operários com diversas origens e habilidades. Por terem sua circulação livre entre os reinos existentes acabou, ali, naquele momento, juntando e coexistindo grupamentos humanos originários de 72 idiomas diferentes.
Para manter a comunicação entre esses agrupamentos de línguas diferentes era necessário um sistema com valores, símbolos e instrumentos comuns entre si: a arte real. O principal fluxo desses operários veio descendo os Rios Tigres e Eufrates... Ao subir o Rio Eufrates encontra-se uma região onde existiu o Reino dos Hititas; a partir do século XX a.C. No passado, alguns críticos acreditavam que os Hititas eram uma invenção dos autores bíblicos, que nunca existiram de verdade.
Hoje, contudo, está bem fundamentada sua existência na história. Arqueólogos que conduziam escavações em Bogazkale, na época do Império Otomano (atualmente Turquia), descobriram as ruínas de Hatusa, a capital dos Hititas. Lá foram encontradas cerca de 10 mil tábuas de arquivos reais do Reino Hitita. |
A Ásia Ocidental é a região das grandes invasões, dos impérios imensos e efêmeros, das deslocações de povos e de civilizações, não só porque é uma zona de imenso tráfego, mas também porque favorece o nomadismo, pela variedade da sua estrutura e pelos contrastes de altitude, com os recursos que essa variedade frequentemente origina conforme ensina a Wikipédia.
(2) AS VERTENTES CULTURAIS.
É importante compreender o significado de vertente. Pode ser cada uma das superfícies do telhado de uma casa por onde deve escoar as águas da chuva. O muçulmano vê as gotas de chuva como benção, uma dádiva de Deus sobre a humanidade. Portanto as vertentes culturais na Maçonaria podem até serem compreendidas como sendo os ritos praticados para expressar o sentimento e o sotaque dessa língua. Diferenças podem existir nessas diversas vertentes que expressam o pensamento ou a língua maçônica. Não é razoável fazer comparações entre esses sotaques, entre os ritos praticados que expressam determinada cultura ou sentimento no exercício da ritualística maçônica como uma vertente do pensamento maçônico. Os ritos maçônicos são as águas que escorrem por cada uma de suas vertentes ou superfícies do telhado maçônico...
(3) AS ESCOLAS DO PENSAMENTO MAÇÔNICO ou TEORIAS DE ORIGEM DA MAÇONARIA VIDAL,
C; em Os Maçons: a sociedade secreta mais influente da história. Rio de Janeiro, Dumará, 2006, analisa as Escolas do Pensamento Maçônico a partir de uma idéia cronológica explica a origem da maçonaria a partir de diferentes períodos: - Teoria Megalítica. - Teoria Egípcia. - Teoria Iniciática. - Teoria Templária. - Teoria Medieval. Luiz Gonzaga da Rocha apresenta a Escola Simbólica, em Cultura de Maçonaria: um caminho. Londrina-PR, 2020; aborda cinco escolas do pensamento maçônico ao expandir o conceito de Charles Webster Leadbeater (1842~1934). Pequena História da Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2012: Isabela Cristina Tavares da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco, em 15 Nov 2017 João Pessoa-PB, no IV Congresso Nacional de Educação (CONEDU), também descreve as Escolas do Pensamento Maçônico ao apresentar pesquisa que recorta a Dissertação de Mestrado A Visão Educativa de Simón Rodriguez, intelectual venezuelano caracterizado como um precursor da educação popular na América, durante o período colonial.
Os textos de Simón Rodriguez aparecem como um exemplo de aplicação das reflexões teóricas iniciadas por Rousseau e o conceito de educação social entende a sociabilidade como sua finalidade principal que prepara os jovens para a vida na República ao se estabelecer os processos de independência da América colonial e ainda nos ensina: - Escola autêntica ou documental: “surgiu na segunda metade do século XIX em resposta ao desenvolvimento do conhecimento crítico em outros campos” conforme afirma LEADBEATER, 2012, p.14.
Sua meta principal é a catalogação e pesquisa da história da maçonaria tentando torna-la acessível aos obreiros. Como a transmissão do conhecimento maçônico é pautado pela oralidade socrática pouco material resta para documentar a investigação da Escola Autêntica que associa a origem da Maçonaria ao período da Idade Média. Essa Escola contribuiu para a moralização de algumas simbologias e cerimonial da maçonaria, inserindo nos seus rituais elementos do cristianismo anglicano. - Escola Antropológica: investiga rastros do conjunto simbólico da maçonaria nas informações sobre costume e rituais dos povos antigos e modernos.
Aqui a Maçonaria não se origina em uma época definida, mas é uma tradição propagada na Antiguidade. - Escola Mística: busca conhecimento e evolução espiritual através das experiências vividas. Os graus de avanço são alcançados pelo estado de consciência do obreiro que obedece a um manual para alcançar sua união com Deus, visando o desenvolvimento da intelectualidade aliado ao desenvolvimento espiritual. - Escola Ocultista: tem por objetivo “alcançar a união consciente com Deus por meio do conhecimento e da vontade, treinar toda a natureza física, emocional e interna que possa ser empregada como um instrumento eficiente no grande plano que Deus criou para a evolução da espécie humana”. - Escola Iniciática: apresentada por VIDAL, C.(2006) em Os maçons: a sociedade mais influente da história. Rio de Janeiro. Dumará. Enquanto Luiz Gonzaga da Rocha, em Cultura de Maçonaria: um caminho. Londrina-PR, 2020, p.79, in fine, apresenta e complementa com outra classificação às Escolas do Pensamento Maçônico: - Escola contemporânea, simbólica ou convencional: “busca as origens da Maçonaria mediante a comparação e a correlação do simbolismo, da linguagem ritual e trata de encontrar a filiação direta entre a Maçonaria e várias religiões, mistérios e sociedades” como afirma J. FILARDO.
Em contraponto a Luiz G. da Rocha (2020), p.79, que destaca a imprecisão de eventual data para o surgimento dessa Escola. Temos para contribui com esse contraponto o ritual de Aprendiz Maçom, 2009, GOB, p. 115, que interroga sobre a crença em um Ente Supremo ao neófito e constata essa crença que honra e enobrece o coração não é exclusivo patrimônio do filósofo; também o é do selvagem que percebe não existir por si mesmo e, então, interroga à Natureza cujos elementos (ar-terra-água-fogo) se manifestam no dia-a-dia e o faz render tosco, mas sincero culto a um Ente Supremo, que é o Criador do Mundo.
Portanto Luiz Gonzaga da Rocha com muita humildade demonstra que a Escola Simbólica, que compara e se utiliza da leitura e interpretação de símbolos para a transmissão do conhecimento, tem sua origem perdida nas brumas do tempo da existência humana. O homem primitivo fazia referência e culto à divindade ao observar a manifestação física dos fenômenos da natureza. Certo de não ter todas as respostas deixemos que novos Buscadores do Conhecimento possam avanças nas pesquisas... |